Marrocos

Uma viagem ao centro da vida

Ao caminhar neste Atlas, sinto-me mínimo. A dimensão infinita destas rochas que se erguem relativiza tudo o que alguma vez me passou na cabeça. As estradas em construção mostram como os humanos devoram a pedra en busca de um caminho possível, de uma passagem menos dolorosa.

Parece uma  impossibilidade a vivência em tais casas encrustadas na rocha contudo a habilidade, engenho e uma necessidade tornam uma realidade absolutamente deslumbrante.

Estamos a uma curva do precipício, e que melhor saborear essa fragilidade da vida.

 

Perdemo-nos à procura de um bem tão precioso como a felicidade.  E esse foi o bem mais precioso que encontrei em cada paragem sorrisos de uma alegria com a vida simples e fora de qualquer maldade, uma vida de bondade e gozo. Crianças numa correria sem perigo, o adeus breve daquele senhor, a sombra de cada mulher que se esconde no véu da  tradição. 

No caminho para Merzouga atravessámos uma vila tão surreal como fora do mapa. Chamava-se Jorf. E sem sair da estrada nacional o caminho torna-se de pó e recuamos no tempo. impressionou-me as mulheres trajadas de negro pelas ruas e uma sensação de desigualdade estranha. Posteriormente indaguei sobre aquele pequeno oásis negro, e pelo que contam é uma comunidade de costumes escolhidos para ser como é, sem as estradas do futuro e sem a consciência da humanidade. 

De facto não conhecia o papel exuberante das palmeiras. não são apenas as arvores exóticas que adornam os nossos pavimentos urbanos. Dos imensos palmeirais de mais 200km às pequenas comunidades agriculas estas árvores são o fruto do negócio local. As saborosas tâmaras que estão em todos os mercados, bancas de  e cafés têm um papel essencial na sobrevivência destas pessoas e deste tempo.

 

Acordámos em Tisselden numa pousada junto à Estrada. Num beco entre as casas um caminho curioso que perdido pela colina nos despertou a cruzá-lo. Para cima o rumo era o topo, o céu, o olimpo que se erguia na colina. Entre os pés as pedras irregulares que trilhavam um caminho de cabra. Não mais que calhaus esfarelados, decomposição de milhões de estrelas, de horas, dias, e anos. Num olhar mais detalhado sobre as rochas a perfeição de cristais camuflados de pedra, que ao projetar sobre a luz solar encadeavam toda a história da humanidade ali na palma da minha mão.

 

“Perdemo-nos à procura de um bem tão precioso como a felicidade. “

 

O dia estava-se a preparar e não nos apercebemos de nada. Jogámos com o destino e como queríamos mesmo apreciar o sol no areal do deserto apenas fomos. Montados naqueles animais tão virtuosos e fantásticos rumámos para norte. Lá longe a dimensão do que nos esperava não podia ser mais explícito e impactante. Uma parede de nuvens cinzentas dominava a terra e soprava na nossa direção. Ela veio sem avisar. E ninguém a esperava a não ser ela própria, por isso continuámos como guerreiros unidos por um destino comum . À minha frente abriam os braços para a receber e a verdade é que o vento que começava a soprar me assustou. Não era normal. Aquele poderio da natureza era de uma força arrebatadora. Primeiro o vento, agora a areia que se enterrava nos olhos e que me impediu de ver o que fosse. A trupe parou, a cabeça do animal atrás de mim estava agora ao meu lado inquieto. Dei-lhe uma festa na cabeça, enquanto agarrava no turbante e tentava filmar aquela cena. Descemos dos animais e cobrimos com as mantas que já tinham sido assentos.

O que era aquilo? Debaixo das tendas improvisadas ríamo-nos para não perdermos a sanidade.

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